Tão logo o sol desponta, o maridão em casa, no maior ronco do mundo, cansado de um exaustivo dia de trabalho que o impede de acordar cedo, mal consegue ouvir dos lábios de sua querida esposa: “- Estou indo fazer minha caminhada, meu bem!”.
Liga o carrão, dá os últimos retoques nos cabelos se olhando no retrovisor e dirige-se à praia. Estaciona em uma das ruas laterais e segue caminhando rumo à orla.
Mal chega à praia, um carro pára ao seu lado e ela entra, escondendo-se no banco do carro. Destino: algum motel da cidade. O secretismo do encontro é apenas mais um condimento que quer ela que se torne especial, suficientemente longe dos caminhos cruzados diariamente, suficientemente perto para poder regressar rapidamente ao seu mundo diário sem ser notada. Quer viver momentos antes vividos que permitam matar saudades passadas e aumentar as saudades que sentirá no momento da despedida. Quer que aquele momento seja apenas um momento para tudo aquilo que deseja, e que não tem mais em casa, e ao mesmo tempo seja um momento de enorme intensidade. Curto, mas intenso. Pouco, porém necessário. Incompleto, contudo motivador.
Mal ela sabe que, na maioria dos casos, é refém de um modelo antigo e arcaico de ser apenas uma amante para poder perpetuar o poder do macho no sentido de posse ou para exercer, na realidade, a fantasia do sultão em seu harém.
Ela pode ter a limitação do romance escondido, mas apesar disso, cultiva de forma especial uma vida própria com suas amizades sem que o investimento na relação secreta as deixe solitárias e excluídas da sociedade como no modelo tradicional das mulheres que por amor, carência ou modo de vida subjugavam-se ao ‘sexo-poder’. Como repercutem ainda na criação e nas experiências familiares, muitas moças preferem o modelo de relacionamento da esposa subordinada ao marido para se preservarem donas da sua própria vida. Também existe uma exacerbação do romantismo e do amor de perdição que numa determinada fase da vida fazem com que o homem proibido ou impossível seja o que mais satisfaça. É verdade que apesar disso o modelo da amante ameaçadora que telefona e faz chantagem ainda existe. Mas isso ocorre na minoria dos casos, pois em sã consciência fugir da pseudo-prisão do casamento e cair numa arapuca dessa ninguém merece! Contudo, infelizmente ainda se vê isso e neste caso quem mais procura apoio psicológico são as vítimas dessa situação: maridos e esposas, traídos e traidores, ficam perdidos quando isso ocorre. As mil facetas do adultério e da traição são difíceis de serem descritas, porém o que vale aqui é chamar a atenção para essa vivência que, por inúmeros motivos intrapsíquicos, são fomentadas e quando as pessoas se dão conta estão vivendo num carrossel de emoções. A princípio, pode ser agradável pela descarga de adrenalina, mas com o amadurecimento esperado das relações, essas emoções ou sucumbem ou geram grande dor e sentimento de desvalia. Portanto vale analisar com carinho e sem paixão a motivação que leva as pessoas a se envolverem em relacionamentos que trazem pouca contribuição ao desenvolvimento pessoal.
Mas, como diria o poeta, tudo vale a pena se a alma não é pequena.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
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