quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

VERGONHA NACIONAL


Eilzo Matos
Escritor, jornalista e político
Radicado no Sertão Paraibano


A Polícia Militar e Civil, Polícia Federal, Bombeiros, Exército, Marinha e Aeronáutica reuniram-se numa insólita cooperação, com força total (aérea, marítima e terrestre), tropas, blindados, helicópteros, para enfrentar incontrolável ação de bandidos na área urbana do Rio de Janeiro. Nas demais, grandes, médias e pequenas cidades do país, o crime é o assunto dominante no noticiário da imprensa falada, escrita e tele-visionada todos os dias. A quanto chegamos! E agora?

Pergunto: existe no país, efetivo suficiente da policia civil e militar, das forças armadas para ocupar o país inteiro, que exige operação semelhante? Aqui no sertão nordestino pessoas são assaltadas no próprio casebre, na cidade e na zona rural, (tudo vale: bujão de gás cheio ou vazio, cadeiras plásticas, trapos), roubam motos, carros, cargas, bichos de cria, agências lotéricas, bancos, postos de gasolina, transeuntes, etc.

O banditismo desafia as autoridades. Domina áreas urbanas inteiras e fronteiras, inacessíveis ao policiamento regular. Os moradores dessas comunidades pagam o preço da ineficiência do Estado, perdendo vidas, a sua tranqüilidade e paz, o funcionamento dos pequenos negócios comerciais que lhes permite sustentar as famílias. Eis a real e verdadeira vergonha nacional.

Tudo acontece porque os representantes da sociedade não escutam, entre outros, os cientistas sociais no nível de Conceição Tavares e Washington Novaes, quando advertem e recomendam:

“Hoje a direita está na ofensiva! Vejam a Europa: Grã Bretanha, França, e os EUA!” – berrou com raiva incontida a economista Conceição Tavares. “[...] Temos aumentado desvairadamente as importações. Nós estamos diminuindo o conteúdo de valor agregado de nossa indústria, até com coeficiente em importação em aço, no qual temos competitividade internacional [...] Há sobra de aço na Europa, que está fazendo dumping para cima da gente e nós deixamos [...] déficit nas transações correntes, remessa de lucros [...] Como se faz desenvolvimento com uma taxa de juros dessas?”

Meio-Ambiente, Biodiversidade? A corrupção instalada nos poderes da república (todos), permite a destruição da Amazônia pelo fogo e pelas máquinas. Liminares, liminares fazem o direito “substantivo” nacional. Resta-nos, como assinala concisamente o jornalista Washington Novais, a “retórica da indignação”. E nos acomodamos, passado o momento do choque, como se nada tivesse acontecido.

A burguesia nacional, desfrutando os Emirados Árabes, as Ilhas Gregas, esbalda-se. Conta com palavras confiáveis, que partem em sua defesa: murmuram conselhos o permissivo e civilizado Suplicy e o educado Cristóvão Buarque, mestres no contraponto, figuras eruditas.

Mas a prática política no Governo Lula, que é de receber e cumprir ordens do Neoliberalismo, somente, permanece no jogo camaleônico das meias-medidas de cunho social: Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Luz Para Todos, etc que mais semelham factóides; e nas grandes ações salvadoras nas crises do capital especulativo internacional, doando recursos arrancados do orçamento nacional para sanear a contabilidade falida das Mega-Empresas privadas. Aí está o resultado. Apesar de ter afirmado que “não daria o peixe, mas ensinaria a pescar”, parece que Lula não o fez, e mesmo assim tem perto de 90% de aprovação na opinião pública.

A movimentação dessa força policial-militar gigantesca quanto custou em reais tirados do orçamento público? Recursos que faltam para saúde, educação, infra-estrutura? Temos missão militar no Haiti e outras são anunciadas também no exterior. Vale a pena averiguar.

Este episódio meio burlesco, me lembra a movimentação de tropas militares pelo presidente Jânio Quadros (medo de Arrais), para reprimir greve de estudantes da Faculdade de Direito do Recife em 1961. Maior do que na Segunda Guerra Mundial. Apurou-se depois. Tanques de guerra apontaram os seus canhões para acadêmicos pacificamente reunidos em torno da estátua de Adolfo Cirne, nos jardins da faculdade. Eu estava entre os estudantes, e, o hoje imortal Ávila Lins integrava a tropa como oficial do CPOR. Ele me revelou recentemente, em momento descontraído na APL.

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