sexta-feira, 18 de junho de 2010

POESIA SOBRE A SENTEÇA DO ESTUPRADOR

A poesia abaixo, diz respeito a inusitada sentença contra um estuprador no ano de 1833, publicada neste blog e foi enviada pelo também poeta popular Vavá da Luz.


A CAPADURA DE DUDA E A SENTENÇA DO JUIZ

Daudeth Bandeira

Quando o cangacerismo
Rondava em nosso País,
No Estado de Sergipe
Um “digníssimo Juiz”
Deu uma sentença histórica.
Culturalmente: folclórica;
Juridicamente: infeliz.

Por tentativa de estupro,
Ou Atentado violento.
Do cabra (Manoel Duda)
À mulher de Xico Bento,
Mesmo sem se consumar,
Ele teve que passar
Por um grande sofrimento.

Foi em mil e oitocentos
No ano de trinta e três,
Doutor Manoel Fernandes,
O aplicador das leis,
Numa sentença “rombuda”
Condenou Manuel Duda
Pagar por algo que fez.

Em pleno mês de Sant´Ana,
Sem água em rio e represa!!
Por força das intempéries
Climáticas da Natureza;
Um grupo de bandoleiros,
Criminosos cangaceiros,
Havia na redondeza.

A mulher de Xico Bento
Ia de lata na mão,
Apanhar água na fonte,
No fundo dum ribeirão,
Quando, de dentro do mato,
Manoel Duda, como um gato,
Saía de supetão.

Imoralmente propunha
A razão do seu intento:
Queria fazer com ela
Do jeito de Xico Bento.
O que a lume não se traz.
Aquilo que a gente faz
Só depois do casamento.

Ela, recusando, disse:
Afaste-se para lá!!
Duda louco de vontade
Disse: mulher venha cá ....
“Abrafolou-se com ela,
E as encomendas dela
Deixou fora ao Deus dará.”

Mas seu grito de socorro
Soou alto na aldeia.
Aí Noberto Barbosa,
Junto a Nocreto Correia,
No flagrante apareceram,
O dito cujo prenderam
E levaram-no p´ra Cadeia.

Depois de três meses preso
Num sofrimento infeliz,
Sem qualquer relaxamento,
Provisória, nem sursis....
No auge do aperreio...
Em mês de outubro veio
A sentença do Juiz.

Sentença em itálica.

“Dizem as leises que duas
Testemunhas assistindo
O naufrágio do sucesso
Fazem prova.” E decidindo,
O Juiz, sobre a sentença,
Conforme diz a imprensa:
!Num linguajar doce e lindo!!

“Considero que o cabra
Manoel Duda agrediu
A mulher de Xico Bento, ...
Quando a ela dirigiu
Seus amores, seus queixumes;
Pois, a lei dos bons costumes,
Gravosamente infringiu.

“Para conxambrar com ela”
Tinha que lhe dominar....
E fazer as chumbregâncias,
Mas, ela sem aceitar.
Pois, casara na capela!
E só com o marido dela
Competia conxambrar!!

O cabra Manoel Duda
Fama de safado tinha,
“Nunca soube respeitar
Mulher casada, ou mocinha”
Quisera, há poucas semanas,
“Também fazer conxambranas
Com Quitéria e com Clarinha.”

Ataca moça donzela
E não pede nem segredo!
Se não houver uma coisa
Que esbarre esse torpedo;
Que atenue a perigança!
A manhã na vizinhança
Até aos homens fará medo!!

Por tudo que há nos autos,
Por força do meu ofício,
Condeno Manoel Duda,
Pelo grande malefício
Que fez à mulher honrada,
Com Xico Bento casada,
Passar por tal sacrifício.

Julgo a causa procedente
E Manoel Duda culpado;
À pena de capadura
Ele será condenado,
Como quem faz com bodête,
E deverá ser a macete
Que é pra ficar bem capado.

A execução da peça
Que acabo de concluí-la
Deve ser executada
Na Cadeia desta Vila
E a partir deste momento
A mulher de Xico Bento
Viverá calma e tranqüila.

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