terça-feira, 1 de junho de 2010

O VIAGRA FEMININO


Cinquenta anos depois da pílula anticoncepcional entrar no mercado mundial e revolucionar a vida sexual feminina, um novo comprimido desponta como promessa de ser um marco na relação entre as mulheres e o sexo.

A aposta da indústria farmacêutica é de que em dezembro de 2011 o “viagra da mulher” seja lançado no Brasil, atendendo à expectativa por uma droga capaz de amenizar a disfunção sexual grave presente na vida de uma em cada 10 mulheres, segundo inquérito feito com 31 mil pessoas do sexo feminino e publicado na revista científica do Colégio Americano de Ginecologistas e Obstetras.

Se o novo medicamento for aprovado pela minuciosa avaliação das agências sanitárias e reguladoras do mundo – a primeira reunião para a discussão de aprovação do remédio está marcada para o dia 18 de junho na agência reguladora dos Estados Unidos da América, o FDA – será a terceira “geração” de pílulas que chega com o intuito causar um grande impacto na vida sexual.

Um, dois, três

A primeira cápsula “revolucionária” foi a que permitiu as mulheres decidirem quando ou não engravidar. Os anticoncepcionais trouxeram a possibilidade para elas do sexo ser pensado com o foco no prazer e não apenas em caráter reprodutivo, segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo). Esta pílula completa agora em 2010 o 50º aniversário e em pesquisa feita com 500 mulheres do País, 33% delas acreditam que o comprimido trouxe melhoras à qualidade da vida sexual.

A segunda geração da pílula transformadoras do sexo foi criada para corrigir a disfunção erétil dos homens. Os medicamentos do tipo (Viagra, Cialis e Levitra) começaram a chegar no Brasil em 1998, trouxeram de volta a ereção comprometida em cerca de 30% dos homens (de acordo com dados do Programa de Sexualidade do Instituto de Psiquiatria da USP, o percentual aumenta com o passar da idade) e reacenderam a vida sexual masculina, em especial após os 60 anos. A revolução foi tanta que a possibilidade de produção de genéricos do Viagra – este ano a Justiça autorizou a quebra da patente do medicamento – projeta mais transformações sexuais.

Pílula do equilíbrio?

A projeção de revolução com a chegada da terceira pílula ligada à atividade sexual é, justamente, pelo fato das pílulas “azuis” terem impulsionado o desejo e prazer só dos homens. Por isso, parte dos especialistas comemora a possível chegada de um medicamento que pode corrigir o “desequilíbrio”.

“Havia um viés machista na ciência de que medicamentos relacionados ao sexo para mulher só deveriam atuar na questão da reprodução. Não existiam medicamentos, e nem a vontade de desenvolver algum, para a mulher melhorar o prazer por causa de alguma disfunção”, afirma Gérson Lopes, ginecologista e sexólogo, presidente da comissão de sexualidade da Febrasgo. “Essa possibilidade que pinta agora (a chegada do novo medicamento) é, portanto, um grande avanço”, afirma.

Lopes pondera que a sexualidade da mulher é muito diferente, e bem mais complexa, do que a do homem. “Se a mulher não tem desejo pelo marido porque ele a agride, por exemplo, não será um medicamento que vai aumentar o prazer com ele. A ação (da droga) é em uma disfunção orgânica”, diz.

Já a psicanalista Dorli Kamkhagi, especializada em estudo gêneros do Hospital das Clínicas de São Paulo e colunista do Delas, opina que a própria constatação de que a sexualidade feminina envolve muito mais do que fatores químicos e desempenho físico leva à avaliação de que uma pílula não será capaz de contemplar todas as áreas que envolvem o desejo feminino.

“Entre as mulheres, é muito restrito você tratar a sexualidade como uma doença, resolvida com medicamento. A minha experiência mostra que quando existem problemas relacionados ao sexo, a paciente precisa descobrir o seu desejo, os modelos sociais que não está satisfeita, a posição na sociedade e uma série de outros pontos.”

O medicamento

O medicamento que pode – ou não – ser influente na disfunção sexual feminina é feito com a substância flibanserina, inicialmente estudada para atuar em quadros depressivos. O laboratório Boehringer Ingelheim afirma que o produto apresentou respostas no tratamento de desejo sexual hipoativo (popularmente chamado de frigidez). "Restabeleceu o equilíbrio de neurotransmissores envolvidos na resposta sexual, aumentando de forma significativa o desejo sexual e o número de eventos sexuais satisfatórios, ao mesmo tempo que diminui a insatisfação pessoal e promove um benefício geral percebido pelas pacientes que sofrem de tal condição”, afirmou o laboratório por e-mail em pesquisa feita com mais de cinco mil mulheres.

Autor: IG

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