segunda-feira, 29 de novembro de 2010

BANDIDOS PRESOS E HUMILHADOS


A imagem do traficante Elizeu Felício de Souza, conhecido pelo apelido de “Zeu” , correu o mundo ontem e ilustrou de forma incontestável a humilhante situação na qual se encontram, agora, alguns dos criminosos mais perigosos do país. A queda da fortaleza do tráfico no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, foi emblematicamente simbolizada pela figura do criminoso: sujo, sem camisa e com a bermuda molhada pela própria urina “Zeu” bem que poderia dizer: “Perdi”.



Um dos homens condenados pela morte do jornalista Tim Lopes, da TV Globo, Zeu foi preso na localidade conhecida como Coqueiral, no interior do Complexo.




Presos na mega-operação policial naquela localidade, “Zeu” e outras dezenas de membros da facção criminosa que dominava o comércio de drogas na região têm em comum, além do passado violento, um olhar desolado. Segundo especialistas em segurança, além da vergonha pela derrota frente às forças policiais essas imagens demonstram o desespero de quem perdeu o poder de articulação.




Uma derrota marcada pela forma como fugiram, com medo de morrer.




— Os criminosos dessa facção perderam a grande praça de comércio que tinham na cidade.




O Alemão era ainda o local de segurança deles quando ameaçados— analisou o ex-secretário Nacional de Segurança, José Vicente da Silva.





Coronel da reserva da Polícia Militar, José Vicente lembra que a facção coordenava todas as atividades da Vila Cruzeiro e das 13 favelas do Complexo do Alemão. Agora, outros grupos criminosos receberam o recado de que não há como lutar contra essa nova realidade.



— Essa facção já estava com problemas de caixa. Perde agora toneladas de cocaína, armas, munição e soldados e ainda é envergonhada dessa forma. É um duro golpe para eles. A cobertura da mídia mostra que a sociedade e as instituições de segurança estão unidas contra a onda de violência que banhou o Rio nos últimos anos, graças à disputa de território entre as três facções. Agora, eles possivelmente vão diminuir esses confrontos. A guerra em nada ajuda o comércio de drogas.




Para o especialista em Segurança e coronel PM Milton Correa da Costa, graças às imagens transmitidas pelos veículos de comunicação, a facção pode estar com os dias contados no estado do Rio.




— A partir de agora a facção está esfacelada, sem comando; mais do que isso, ela está enfraquecida moralmente, além do fator econômico. As imagens mostram derrotados. Se as forças de Segurança permanecerem obstinadas, há a possibilidade de um esfacelamento total dessa facção, já que esse grupo terá perdido um terreno que jamais será recuperado.



Costa acredita ainda que o episódio que culminou com a tomada do Alemão representa o maior tiro no poder paralelo na história do Rio.


— Até no âmbito judiciário não há precedentes. O cordão umbilical das lideranças com os elementos de execução do narcoterrorismo foi cortado— celebra o coronel da PM.


A antropóloga Alba Zaluar afirma que as perdas para a facção já vinham sendo significativas, principalmente na Zona Oeste da cidade, graças às milícias.




Agora, esse pode ser um golpe derradeiro.




— A fisionomia deles retrata homens derrotados, humilhados, perdedores. É toda a expressão corporal de quem perdeu tudo. Esses rituais de humilhação estão sendo vistos no mundo inteiro e a mensagem que passam às outras quadrilhas é de alerta: não brinquem por que nós somos hoje o que vocês serão amanhã— analisa Zaluar.




Já o sociólogo Michel Misse é mais contido em sua análise das operações no Alemão: — Nós já sabíamos que eles eram meninos com armas nas mãos. Quanto ao reflexo dessa investida do poder constituído, é cedo para afirmar.


Fonte: O Globo

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