segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

MAIORES ABANDONADOS


Ivaldo Gomes


Tenho também como hábito, tal qual o nosso cronista e poeta inesquecível Luís Augusto Crispim, passeado por minha cidade a passos contemplativos. Sempre fui apaixonado por essa terra. Desde que a vi nos idos de 1975. De lá pra cá é um vai e vem sem fim. Há vinte anos caminho na companhia agradável e apaixonante de Ana Maria. Percorremos sempre os mesmos caminhos que é pra ter a certeza de que eles continuam lá. Mesmo com as interferências das administrações públicas eles continuam ali. E revisitamos todos sempre com a desculpa de que vamos passear por ai.


Ao longo desses anos sempre notei pessoas vivendo nas ruas. Literalmente nas ruas. Abandonadas por ausência crônica de políticas públicas de inclusão social. Claro que estão também abandonados de si próprios. O que não deixa de ser o pior dos abandonos. Pessoas que se dilaceram na miséria, pobreza e no vício, principalmente de álcool. Os vejo jogados nas calçadas de Tambaú, Manaíra, Bessa. Nas grandes avenidas como a Epitácio Pessoa ou Beira Rio. No centro da cidade então, os vemos nas praças e pátios de igrejas, em jardins e marquises de prédios públicos. Vivem ali, jogados e esquecidos de todos nós.



Penso que o Ministério Público deveria fazer alguma coisa. Cobrar urgência dos governos atuais, através de atitudes concretas para socorrer, tratar e reabilitar essas pessoas que se perderam de si e todos nós. Elas deveriam ser interditadas no seu direito de autodestruição. É uma questão de saúde pública. Um dever e uma obrigação do Estado. Na defesa da cidadania abandonada e esquecida por quem de direito: os governos e a sociedade que os mantém. Aqui no Bairro dos Bancários onde moro, ‘vive’ um grupo de homens e algumas mulheres, perambulando e morrendo à mingua pelas ruas do bairro. Acredito que nos outros bairros isso também esteja ocorrendo.


É preciso que isso seja enfrentado de frente. Que seja criado programa público para tratá-los e depois encaminhá-los a alguma perspectiva de vida considerada humana. É de cortar o coração, ver, assistir impotente, a tanto abandono público e privado. Essa semana que passou, dois moradores de rua foram assassinados em João Pessoa e Campina Grande. Acredito que em outras cidades da Paraíba esteja acontecendo o mesmo. De tanto abandono, alguns se acham no direito de matá-los. ‘Não fará falta’! Acredita aqueles que nem coração deve possuir mais.



MAIORES ABANDONADOS. Um problema nosso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário