domingo, 25 de julho de 2010

PAPO D' ESQUINA - PARAÍBA


80 ANOS DA MORTE DE JOÃO PESSOA


Hoje excepcionalmente, fugiremos do estilo da coluna, para falarmos um pouco sobre João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, considerando que hoje 26 de julho, completa 80 anos de sua morte.

No final dos anos 30, João pessoa Cavalcanti de Albuquerque, que era ministro do Superior Tribunal Militar, foi nomeado pelo seu trio Epitácio Pessoa para dirigir os destinos da Paraíba. Ao iniciar a sua gestão, o novo presidente - título hoje correspondente a governador – enfrentou forte oposição da elite dominante, já que passou a exercer rigorosa fiscalização e o combate a sonegação dos impostos, bem como combater com firmeza os chamados crimes por encomenda, prática que era bastante comum e utilizada pelos então chamados “coronéis” que assim pregando o medo, conseguiam se impor nas suas respectivas cidades.

João Pessoa bem sua formação militar, pois antes de ser ministro já havia sido soldado e aluno de escola militar e ainda pela sua formação jurídica, não se curvou aos desmandos, nem muito menos a pressão daqueles que se julgavam poderoso e passou a exercer uma árdua luta pelo recolhimento dos impostos, fechando com cancelas a entrada e saída das cidades, recebendo então de forma pejorativa, o apelido de “João Porteira”. Ainda durante seu governo, João Pessoa enfrentou outra grave crise a “Revolta de Princesa” movimento encabeçado pelo coronel José Pereira, que chegou a anunciar a emancipação da cidade de Princesa Isabel, tornando aquele pedaço do solo paraibano um estado independente.

Por conta do seu trabalho à frente do nosso Estado e considerando a força e o poder do seu tio Epitácio Pessoa, o presidente João Pessoa logo se tornou um nome nacional, sendo então indicado como candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Getulio Vargas que pretendia enfrentar candidatura de Julio Prestes, candidato apoiado pelo então presidente da Republica Washington Luiz, tendo tal candidatura sido prontamente rejeitada pelos Estados do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Paraíba, formando-se assim, a Aliança Liberal. Ocorrendo o pleito, mesmo sem João Pessoa figurar na chapa, Getulio foi batido pelo candidato Julio Prestes, num resultado bastante discutido, pois havia fortes indícios de fraude. Mesmo vitorioso, Julio Prestes não assumiu o governo, em virtude da deflagração da Revolução de 1930.

Além de todas as frentes de luta já citadas, João Pessoa mantinha ainda uma briga pessoal com a poderosa família Dantas, que teve início quando ocorreu a invasão da propriedade do pai do advogado João Dantas, conhecido pelo seu temperamento forte, que irritado com fato escreveu uma violenta carta para o presidente João Pessoa, desafiando e achincalhando o mesmo, relembrando fatos ocorridos no passado com o presidente no Rio de Janeiro, chegando João Dantas na correspondência a por em dúvidas a coragem pessoal do presidente que na sua visão, teria feito a agressão ao seu genitor, apenas por se encontrar amparado pelo poder. Agravando mais ainda tal situação, a policia paraibana invadiu na Rua Duque de Caxias 519 o escritório e residência do advogado João Dantas, retirando dali documentos e cartas que o advogado trocava com a sua namorada Anaide Beiriz, cuja correspondência apesar de não publicadas no Jornal A União, como erroneamente afirmam alguns, foram, entretanto, expostas em locais públicos e João Dantas, através de A União apontado como espião de José Pereira, denúncia que levou João Dantas a deixar o nosso Estado e passado a residir na casa do cunhado Augusto Caldas em Olinda-PE.

Alguns dias depois, mais precisamente no dia 26 de julho de 1930, João Dantas informado de que o presidente João Pessoa, visitaria a capital pernambucana, resolveu esperá-lo na Confeitaria Gloria, onde sabia que o mesmo iria almoçar com autoridades locais. Durante a espera, João Dantas permaneceu escondido no banheiro do estabelecimento, até que avistou o seu desafeto sentado numa das mesas em companhia de Agamenon Magalhães, Caio Lima Cavalcanti e Alfredo Dias, quando então de forma decidida de arma em punho se aproximou e disparou varias vezes, caindo João Pessoa gravemente ferido, sendo socorrido e levado para uma farmácia nas proximidades, porém não resistindo aos ferimentos. Por sua vez João Dantas, logo após os fatos tentou se evadir do local, mas o motorista que conduzira o presidente na viagem sacou de um revolver e atirou contra João Dantas, que foi levemente atingindo na cabeça e caiu, sendo então contido por populares e entregues a polícia.

A morte daquele considerando por muitos como um verdadeiro líder, ensejou grave reação popular, ocorrendo depredações e muita confusão no Estado da Paraíba, com ameaças a todos aqueles que eram adversários políticos de João Pessoa, tendo muito deles de deixar as suas residências e até sair do Estado, para assim não enfrentar a fúria popular.Por ordem de Assis Chateaubriand o corpo de João Pessoa foi levado de navio, passando por todos os portos até chegar ao Rio de Janeiro, onde iria ser sepultado.

Dias depois do crime, João Dantas e seu cunhado que o acolhera no Recife, foram barbaramente espancados e mortos na cela, sendo sepultados sob forte escolta policial, pois a população pretendia queimar os corpos. A propósito de tais mortes alguns historiadores tentando maquiar os fatos, informam que João Dantas de posse de um bisturi que foi introduzido na cela por Anaide Beiriz, no dia 26 de outubro daquele ano, cortou a carótida de seu cunhado Augusto e depois se matou, relato que cai por terra quando se observa as fotos tiradas dos corpos, em que ambos apresentam os crânios esfacelados, por objetos contundentes, provavelmente cassetetes de madeira, que eram muito utilizados naquela época.

Depois da morte de João Dantas Anayde Beiriz foi encontrava morta por envenenamento no Asilo Bom Pastor, onde buscara refugio, existindo quem duvide que a mesma de moto próprio tenha tomado tal decisão, pois quem conhecia a mesma, a sua coragem e determinação, informavam que Anayde jamais tomaria uma decisão assim, ou seja, optaria em enfrentar a tudo e a todos.


Com a morte de João Pessoa os seus partidários aproveitando a comoção reinante, quiseram prestar ao mesmo todas as homenagens possíveis, sendo imediatamente retirado o nome do Comendador Felizardo na praça localizada defronte ao Palácio e ali colocado o nome de João Pessoa. Logo em seguida o poeta Américo Falcão, que naquela ocasião dirigia a Biblioteca Publica, entendo que aquela homenagem ainda estaria muito aquém do presidente assassinado, encaminhou correspondência ao seu amigo Sinésio Guimarães, diretor do Jornal A União, sugerindo que o nome de João Pessoa fosse dado a capital paraibana, sendo tal correspondência sido publicada no dia 3 de agosto e no dia 6 do mesmo mês no matutino carioca, denominado “O Jornal”. Sendo tal ideia imediatamente sido encampada pelo “Centro Paraibano” localizado no Rio de Janeiro e com o apoio dos estudantes do Liceu Paraibano, sendo imediatamente colocada em pauta na assembléia Legislativa, pelos partidários de João Pessoa e aprovada rapidamente e sem discussões, já que a oposição, por motivos óbvios, havia desaparecido de cena. Tal lei aprovada no dia 4 de setembro, recebeu o nº 700 e foi sancionada pelo então presidente, Álvaro de Carvalho.

Mais adiante, já no dia 25 do mesmo mês, foi adotada a nova bandeira da Paraíba, contendo a palavra “NEGO” numa alusão a negativa de João Pessoa, em apoiar a candidatura de Julio Prestes a presidência da República, sendo a bandeira oficializada através da Lei 704, assinada pelo presidente da Assembleia Antonio Galdino Guedes e pelo primeiro secretário do Legislativo, Severino de Lucena, genitor do saudoso senador Humberto Lucena. A nova bandeira substituiu a bandeira que se encontrava em vigor desde 21 de setembro de 1907 e que havia sido aprovada pela Lei 266, sancionada pelo Monsenhor Walfredo Leal e pelo Oficial de Secretaria Marcolino D’ Albuquerque Pessoa.

Ainda em decorrência da mudança do nome da capital, o autor da ideia Américo Falcão, logo após a aprovação pelo Parlamento, recebeu na sua residência localizada na antiga Rua da Palmeira, ruidosa manifestação de populares, discursando na ocasião professor Manoel Viana Junior, que parabenizou o vate pela aprovação de sua ideia, tendo Américo Falcão discursado em seguida agradecendo a todos. Ou seja, diferente daquilo pregado por alguns, todas as homenagens feitas a João Pessoa, ocorreram antes do dia 3 de outubro, início da Revolução de 1030. Não há como se negar, entretanto, que a morte de João Pessoa, foi fator determinante para o início da Revolução de 1930.


Nos dias atuais já existe forte movimento para que a mudança do nome de nossa capital seja revista, pois alegam que o nome de João Pessoa foi adotado num momento de muita emoção e que não eram o desejo da maioria, sendo a importante mudança realizada por uma minoria da população da capital, sem que se convocasse toda população paraibana. Os nomes propostos são a volta do antigo nome de Paraíba e ainda Filipéia e Cabo Branco, dentre outros.

Os fatos aqui narrados foram repassados para nós há muitos anos, através de correspondência, pelo filho de Américo Falcão, João Leomax Falcão, que hoje já não se encontra entre nós.



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