quinta-feira, 16 de setembro de 2010
PROMOTOR PUNIDO POR ASSÉDIO
O promotor Eliseu José Berardo Gonçalves, de Ribeirão Preto, a 313 km de São Paulo, foi punido com suspensão de 22 dias pela Corregedoria do Ministério Público Estadual depois de uma denúncia de assédio feita por Suzane von Richthofen. Condenada, a jovem cumpre pena por matar os pais em 2002.
Em depoimento no ano passado à juíza da Vara de Execuções da Comarca de Taubaté, a 120 km de São Paulo, Suzane declarou que o promotor da Vara do Júri e de Execuções Criminais se apaixonou por ela e a levou duas vezes para seu gabinete quando esteve presa na Penitenciária de Ribeirão Preto. Ao G1 ele admitiu: “Alguns fatos são verdadeiros. Outros foram distorcidos. Não me apaixonei por ela. Nego com veemência”.
A decisão da Corregedoria saiu no Diário Oficial do Estado nesta terça-feira (14), mas Gonçalves disse na tarde desta quarta-feira (15) que ainda não tinha sido informado da decisão do corregedor. Ele afirmou estar “triste” e “surpreso” com a punição. E jurou não guardar mágoa ou ódio de Suzane, apesar de as declarações dela terem afetado sua vida pessoal.
“Esse episódio acabou com meu relacionamento”, revelou o promotor, que tinha uma “união estável” com uma mulher. “Sempre ficou uma dúvida por parte dela”, completou ele, sobre a desconfiança da então parceira depois das denúncias de Suzane. “Nunca mais quero ouvir falar dessa moça, mas não sinto raiva”, afirmou Gonçalves, sempre se referindo à presa como “moça.”
s
Sobre os “fatos verdadeiros”, o promotor admitiu que, em janeiro de 2007, Suzane ficou muito tempo em seu gabinete e que, por isso, comprou lanche para ela. A jovem tinha ido depor sobre denúncias de supostos maus-tratos na prisão. Também contou que deu “beijinho no rosto” na hora de se despedir de Suzane e de outras presas em uma das duas visitas que disse ter feito à Penitenciária Feminina de Ribeirão Preto, onde a condenada estava. “Foram fatos provados que eu mesmo admiti (à Corregedoria)”, disse Gonçalves.
O caso
Atualmente, Suzane está presa em Tremembé, a 147 km de São Paulo. O Ministério Público não quis comentar a punição. Informou apenas que o processo corre em segredo de Justiça e que os corregedores não devem se pronunciar sobre o caso.
Mas Gonçalves deu sua versão. Contou que tudo começou em setembro de 2006, quando detentas da Penitenciária Feminina de Ribeirão Preto enviaram cartas denunciando possíveis maus-tratos na cadeia. “Elas disseram que ficavam trancafiadas 22 horas por dia, que não podiam fazer trabalhos manuais na cela. Investiguei, instaurei um inquérito civil. Era meu dever.”
Em dezembro do mesmo ano, o promotor contou ter ido à penitenciária duas vezes para averiguar as denúncias. Lá, disse ter visto Suzane uma vez. “Ela foi a que mais reclamou (das condições), chorou.” Em 5 de janeiro de 2007, segundo Gonçalves, a presa foi à Promotoria dar um depoimento formal sobre o caso. No dia 15 do mesmo mês, ocorreu “o problema”.
“Ela ficou no meu gabinete umas nove, dez horas. Tive que pedir um lanche para ela porque a penitenciária não trouxe comida”, disse o promotor, que tem 19 anos de carreira. Segundo ele, a permanência da presa foi longa porque ela chorou e queria voltar atrás nas suas declarações.
Versão de Suzane
De acordo com o depoimento de Suzane sobre o suposto assédio, Gonçalves fez indagações sobre a vida pessoal da moça. Após dez dias, a presa disse que foi novamente levada ao gabinete dele, de ambulância e sem algemas. Ela disse que o promotor providenciou música ambiente, com CDs românticos, e disse que havia se apaixonado por ela.
“Eu nem tenho aparelho de som aqui”, afirmou ele, que também negou ter escrito poesia à Suzane. “Poesia? Não sou poeta. Essa história da música e da poesia são inverdades.” Gonçalves informou não ter ideia do que motivou Suzane a denunciá-lo por assédio. “Muito me surpreendeu a conduta dela. Em momento algum fiz algo para prejudicá-la. Elas (presas) me pediram para regularizar a situação, para investigar.”
Defesa de Suzane
O advogado de Suzane, Denivaldo Barni, disse ao G1 na manhã desta quarta que não teve acesso à decisão nem aos autos, apesar de ter feito o pedido ao Ministério Público. “O processo tramitou em sigilo, dentro do Ministério Público. A única coisa que eu posso tecer, de acordo com o que está sendo noticiado, é que ficou constatado que ela foi vítima, tanto é que ele o promotor foi punido”, disse o defensor.
Barni ainda ressaltou que na época do relato de sua cliente ele só soube dos encontros dela com o promotor em seu gabinete por meio da imprensa. Atualmente, Suzane está presa em Tremembé, a 147 km de São Paulo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário