José Virgolino de Alencar
Minha postura na vida é sólida,
tenho arraigado sentimento ético,
na justiça, sinceramente, sou crédulo,
não me abala do destino o pêndulo
que me empurra para o lado cético.
A verdade pra mim é um tônico,
não dizê-la só me deixa em dívida,
inverdade pra mim é uma lástima,
mentir pra mim é a etapa última,
assim sou, sem nenhuma dúvida.
A paz pra mim é um santo bálsamo,
viver é bom no hoje como no póstero,
sobra-me bondade, nela tenho crédito,
nesse conta-corrente resulta-me bom rédito,
minha produção do bem é um negócio próspero.
Não temo a proximidade do óbito,
a efêmera glória não me causa êxtase,
tanto faz a planície como a alta cúpula,
debacle não me causa qualquer mácula,
só à vida saudável é que dedico ênfase.
À procura do saber corro lépido,
quero ver o conhecimento no seu íntimo,
tenho a leitura como um prazer lúdico,
o aprender é algo singular, ímpar, único,
que dá à vida afinação e ritmo.
Não me apraz o poder dos títeres,
porquanto abusam da força física,
levam o arbítrio ao nível máximo,
não respeitam e não amam o próximo,
e sempre mostram uma carranca cínica.
Repugna-me a vaidade, sentimento mísero;
o vaidoso é um ser de semblante cômico,
esquece que o orgulho vai com ele ao túmulo,
e tal alcoólatra, que tem seu corpo trêmulo,
ele faz da vaidade um vício crônico.
Sou e serei um cidadão íntegro,
sempre e não só na fase crítica,
entendo como estratégia péssima,
aguardar os ventos da hora décima,
e fazer do caráter uma coisa mítica.
Idealismo vejo como difusa ótica,
meu ideal resulta de objetivo tático,
não é produto de sentimento místico,
cravado na mente como um dístico,
é, na realidade, racional e prático.
Não vivo em sintonia com o mundo frívolo,
discrição é marca da minha têmpera,
no combate ao mal prefiro ser drástico,
com burrice sou profundamente cáustico,
numa atitude ranzinza e duramente áspera.
Meus deveres são cumpridos com êxito,
obrigação faço com dedicação rígida,
não cumpro a lei apenas de forma cênica,
tenho respeito e zelo pela coisa pública,
minha ação profissional é pura, límpida.
Vejo a vida e o mundo por esse ângulo,
embora não os resuma num limite métrico,
fragilmente compondo um corpo pálido
que ao primeiro sopro desmorona rápido,
em ruínas que formam um cenário tétrico.
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