segunda-feira, 30 de novembro de 2009
FILHO DE PABLO ESCOBAR SE ENCONTRA COM VÍTIMAS DO PAI
O colombiano Sebastián Marroquín, arquiteto de 32 anos, chamava-se Juan Pablo até os 16 anos de idade. Mudou de nome quando chegou a Buenos Aires, em dezembro de 1994, numa viagem sem passagem de volta.O motivo foi seu sobrenome. Sebastián é filho de um dos narcotraficantes mais temidos da América Latina, Pablo Escobar Gaviria. Seu pai foi assassinado num terraço em Medellín em 2 de dezembro de 1993. Sebastián fugiu do país com sua mãe e sua irmã mais nova. Os três mudaram de nome para proteger sua identidade, explica. A carga de culpa por crimes que não cometeu o motivou, depois de 16 anos, a sair do anonimato. Apenas para pedir perdão.
Drama familiar Pablo Escobar e sua mulher Victoria Eugenia Henao assistem a uma partida de futebol, em data não registrada. O narcotraficante foi assassinado num terraço em Medellín em 2 de dezembro de 1993. A família teve de fugir da cidade
"Aos sete anos, minha vida era a de um delinquente", lembra-se Marroquín em entrevista a este periódico. "Vivíamos como fugitivos. Chegou a acontecer de estarmos escondidos com ele, rodeados de milhões de dólares e morrendo de fome", afirma. Desde seu exílio, assumiu que seu dever era de não seguir os passos de seu pai. "Aprendi que devo fazer exatamente o oposto do que ele fez. Eu quero viver".
Nos anos 80, Pablo Escobar Gaviria foi o líder do cartel de Medellín. "Não lembro de tê-lo visto com medo", lembra-se Marroquín. Seu pai chegou a controlar 80% do tráfico mundial de cocaína e suas ações detonaram os anos sangrentos do narcoterrorismo, que lançaram a Colômbia numa espiral de violência, morte e dor. Seus crimes somam milhares de assassinatos, atentados com carro-bomba, até a explosão de um avião de passageiros e a formação de grupos de assassinos formados por crianças de 11 anos. Uma macabra herança que obrigou sua família "a pagar a pena dele em nossas vidas" e que motivou seu filho a pedir perdão.
Por isso aceitou o pedido de Nicolás Entel, um cineasta argentino de 34 anos empenhado em filmar a vida de Pablo Escobar sob uma perspectiva diferente. "Não queria fazer um filme de gangsters. Queria mostrar os efeitos que suas ações deixaram em seus filhos e nos filhos de suas vítimas", explica Entel. Ele levou seis meses para convencer Marroquín a participar do projeto. O resultado final, o documentário "Pecados de Mi Padre" ["Pecados de Meu Pai"], custou cinco anos de dedicação e todas as economias de Entel, cerca de US$ 750 mil. O filme estreou na semana passada no Festival de Cine de Mal del Plata (Argentina).
Marroquín não colocou um centavo, mas o custo emocional foi gigantesco. Teve que voltar seus olhos para o passado do qual estava fugindo há mais de 16 anos. E não só isso. Também precisava sentar-se ao lado dos filhos do ex-ministro da Justiça colombiano Rodrigo Lara Bonilla, e do ex-candidato presidencial Luis Carlos Galán.
Entel deu o primeiro passo. Aproximou-se de Rodrigo Lara Restrepo e de Carlos, Juan Manuel e Claudio Galán para explicar que fazia um documentário sobre os filhos das vítimas da narcoguerra na Colômbia.Só alguns meses depois revelou a meta real do projeto. "A primeira aproximação foi há três anos e meio", lembra-se Lara. "Pareceu-me interessante que ele abordasse o assunto sob o ponto de vista dos filhos das vítimas e do assassino. Muitos projetos foram feitos até agora, muito sensacionalistas". Compartilhar a mesa com o filho de Pablo Escobar, entretanto, não foi fácil. "Mostramos reticência no início".
Para quebrar o gelo, o primeiro passo foi uma carta. "Nunca tive tanto medo como hoje [...] Como escrever para uma família a quem meu pai causou tanto dano?", escreveu Marroquín. Apesar de os filhos dos assassinados terem recebido a aproximação com receio, finalmente decidiram se encontrar com o filho do responsável por sua tragédia. Pablo Escobar ordenou matar Lara Bonilla em 1984 e Luis Carlos Galán em 1989. Todos eram crianças quando aconteceram os crimes.
Fonte Uol
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